quarta-feira, 15 de maio de 2013

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A jornada científica do rádio.



A partir do desenvolvimento da tecnologia da radiodifusão, passando pela criação da primeira emissora do Brasil, o rádio consiste um verdadeiro case da ciência em movimento. Tal história é permeada por nomes de cientistas brasileiros, como Landell de Moura e Roquette Pinto.

Com o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1918, a companhia Westinghouse vê-se impelida a reposicionar sua mercadoria: aparelhos receptores do tamanho de mochilas. Durante o conflito, tal tecnologia supera a telegrafia, o telefone e os recursos postais na basilar função de orientar o deslocamento das tropas e de comunicação. A diversificação natural parece ser o oferecimento dos parelhos receptores aos usuários domésticos. E, como incentivo necessário à adesão da tecnologia pelos cidadãos comuns, o fabricante trata de instalar uma estação transmissora – a KDKA – dentro do próprio parque industrial em Pittsburgh, EUA. Dessa forma, quem se aventura a adquirir o antigo aliado de guerra pode ouvir uma precursora programação, inaugurada pela cobertura dos resultados da eleição presidencial norte-americana de 1920. A estratégia bem-sucedida gera um círculo virtuoso na medida em que a ampliação do número de receptores estimula o surgimento de novas emissoras e programas. É o advento de uma mídia que se tornaria uma das mais populares do mundo: o rádio. 



Fruto de progressos sucessivos, é praticamente impossível precisar a invenção da tecnologia do rádio. Entre 1850 e 1990 dá-se o desenvolvimento da telegrafia com e sem fio. É também desse período – mais precisamente na década de 1890 – a experiência do padre brasileiro Roberto Landell de Moura (1861-1928), com transmissão e recepção de voz sem fio. Pouco depois é a vez do físico italiano Guglielmo Marconi (1874-1937) encetar a sua experiência, ganhando projeção e legando o pioneirismo do religioso brasileiro ao esquecimento. 

A Rádio Sociedade 

A despeito da colaboração de anônimos e injustiçados, para Maria Elvira Federico, em seu História da Comunicação: rádio e TV no Brasil (Vozes), por ocasião do advento do rádio, “(...) nunca a ciência e a tecnologia estiveram tão próximas e coesas, unindo a indústria, o inventor e os governos, cuja aproximação ajudou a aceleração do desenvolvimento do novo veículo de comunicação”. 


Em solo brasileiro, o padre Landell não é o único a entusiasmar-se com a promissora ciência da radiodifusão. No início da década de 1920, intelectuais – envolvidos ou não com a telegrafia ou radiotelegrafia – reúnem-se em espécies de sociedades de pesquisa, onde se dedicam a discutir – calcados em fontes estrangeiras – os progressos de vanguarda da radiodifusão. Em 1922, ano do centenário da independência brasileira, a pioneira americana Westinghouse – às avessas com a concorrência da General Eletric e interessada em expandir o mercado – aproveita a demanda da Repartição Geral dos Telégrafos para desembarcar no Brasil. Providencia uma demonstração, a partir da montagem de uma estação no Corcovado, no Rio de Janeiro, com apoio da Light e da Cia. Telefônica Brasileira. Para suprir a ausência de aparelhos receptores domésticos, são instalados receptores auto-falantes que, durante a exposição do centenário da independência, excita os ouvintes, que ouvem assombrados – apesar da tosca qualidade do som – o discurso do presidente Epitácio Pessoa e a canção “O Aventureiro”, integrante da obra O Guarani, de Carlos Gomes. 

Não demora muito para que se comesse a articular a instalação da primeira emissora de rádio brasileira. Ocorre no ano seguinte, após a efetiva aquisição da tecnologia pelo governo brasileiro, em atendimento a demanda do Serviço Telegráfico Nacional. Cabe aos cientistas Edgard Roquette Pinto e Henry Moritze a idealização de um projeto de difusão educativo-cultural através do rádio. Iniciativa que redunda na criação da rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923 – vinculada à Academia Brasileira de Ciências, entidade da qual fazem parte os seus fundadores e membros, que sustentam a emissora por meio de contribuições. 



Inconvenientes concretos 

Pode-se dizer que – de certa forma – o rádio surge no Brasil como rádio-ciência. Já em 1925, a Sociedade apresenta programas instrucionais de Geografia, História do Brasil, higiene, Silvicultura, Química, História Natural e Física. Também apresenta jornais, dentre eles o emblemático Jornal da Manhã, comandado por Roquette Pinto. Os próprios cientistas, aliás, são os responsáveis pelos programas. 

Em São Paulo, por seu turno, pouco depois do surgimento da emissora carioca, é criada a Sociedade de Rádio Educadora Paulista (30 de novembro de 1923), com ideais e propósitos semelhantes. 

Apesar do início alentador, cheio de idealismo, há inconvenientes concretos. A restrição do poder aquisitivo – e a consequente restrição dos ouvintes – é só o começo. Além de taxas governamentais e de contribuição à emissora, os pretensos ouvintes precisam superar uma jornada burocrática que inclui até mesmo a confecção de um projeto com o traçado do receptor. 

Dependência econômica 

Maria Elvira Federico faz saber ainda que no bojo dos dispositivos legais que instituem o controle estatal – marcadamente através das concessões – torna-se estabelecida a “(...) necessidade compulsória de aperfeiçoamento das instalações e equipamentos para a estabilização de frequências”. Tais imperativos acabam restringindo o surgimento de novas emissoras ao passo que coadunam com a concentração dos meios ligados ao poder econômico. Nesse sentido, emissoras como a Sociedade do Rio de Janeiro, de caráter amador-associativo, tornam-se inviáveis. Em 1936 a rádio Sociedade é doada ao Ministério da Educação, dando origem à rádio MEC. 

Emissoras de caráter comercial pululam e consolidam-se, especialmente a partir de 1938, com foco no recreativo e com o departamento de produção e programação relativamente sujeito ao departamento comercial. Por outro lado, a rádio se populariza, inclusive no meio rural, levando informações pertinentes ao homem do campo, como aquelas relativas à produção agrícola e sobre incidentes climáticos. O modelo de exploração privado e a intrínseca busca por resultados consequentes da audiência, todavia, podem ser responsabilizados pela queda no nível cultural das audições. 



Alternativa às comerciais são as emissoras públicas, orientadas por um ritmo distinto por não terem a sua programação subordinada primordialmente aos resultados consequentes da audiência, como verbas publicitárias – embora não prescindam da audiência, inerente aos meios de comunicação de massa. A respeito das emissoras públicas, Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima frisam, na obra Manual do radiojornalismo: produção, ética e internet (Elsevier), que essas, sejam no rádio ou na TV, “(...) não se confundem com as estatais, que dependem economicamente e politicamente de governos e podem ser manipuladas por eles”. 



Adaptações constantes 



Muito tem se falado na obsolência da mídia rádio, geralmente atrelada ao surgimento de novas tecnologias da Comunicação Social. Trata-se de um discurso que já beira o senso-comum e, ao que parece, constantemente desmistificado. No Brasil, onde a taxa de analfabetismo das pessoas de 10 anos ou mais de idade ainda chega a 9,1%, mais de 88% dos domicílios possuem aparelho de rádio (dados do IBGE de 2007). O percentual já foi maior. Em 1998, 90.4% dos domicílios possuíam rádio. Contudo, os números ainda são pujantes para que se possa vaticinar com segurança qualquer sinal extinção. Sobretudo se considerarmos as revoluções pela qual o rádio tem passado, como na ocasião da expansão do dial, com o surgimento da FM (Frequência Modulada), consolidada no Brasil na década de 1970, marcado pela supervalorização dos musicais pré-gravados. 

Mais recentemente, a instalação, a migração e mesmo a transmissão simultânea de estações de rádio via internet tem conferido novo fôlego a essa mídia. São os chamados fenômenos da Web-rádio e do podcast, que, talvez, possibilitem um retorno à fase pré-controle estatal/concessionário do rádio, incentivando a experimentação e a multiplicidade. Da mesma forma, a presença do rádio na internet tem estimulado análises que voltam a jogar luzes sobre o seu potencial educacional, o mesmo que motivou o pioneirismo de Roquette Pinto nos anos 1920. 

*** 

Por Tiago Eloy Zaidan em 14/05/2013 na edição 746 

Tiago Eloy Zaidan é mestre em Comunicação Social e professor da Escola Superior de Marketing (ESM-FAMA, Recife)

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