segunda-feira, 12 de março de 2012

RODELÃO6970 INFORMA


Um exemplo de vida
Falecido ontem aos 93 anos, o general José Antônio de Alencastro e Silva foi o criador do Sistema Telebrás e presidente da holding durante 11 anos, em seu período áureo, ou seja, de 1974 a 1985. Conhecido em todo o setor apenas como general Alencastro, esse brasileiro admirável dedicou mais de 50 anos de sua vida às telecomunicações.
Exemplo de probidade e profissionalismo, conquistou tão grande respeito e reconhecimento entre os que o conheceram de perto que seus contemporâneos sempre ressaltam suas qualidades morais com a maior naturalidade e convicção, exatamente como o fazemos aqui, ao iniciar este perfil biográfico. Raras figuras deram contribuição tão significativa às telecomunicações do Brasil. Não foi por outra razão que ganhou o apelido de General das Telecomunicações.
Gaúcho de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, onde nasceu em 14 de abril de 1918, Alencastro formou-se engenheiro de telecomunicações pelo Instituto Militar de Engenharia (IME).
Depois de sua aposentadoria em 1995, recusou-se a falar publicamente sobre a política setorial. Estava totalmente desencantado com o desempenho do modelo estatal que ele mesmo havia ajudado a criar. No entanto, aos amigos mais próximos, confidenciava:
“Depois de tudo a que assisti ao longo de mais de 50 anos, que me provaram o doloroso fracasso do Estado, sempre aparelhado, assaltado e dominado por corruptos e incompetentes, só nos resta privatizar tudo.”
Vida simples até o fim
Após ter administrado bilhões de reais de investimentos públicos, por algumas décadas, e se aposentado em 1985 de suas atividades profissionais em telecomunicações, passou a viver com extrema simplicidade em Brasília. Sua aposentadoria era apenas a de general-de-brigada reformado.
Nos anos 1950, teve atuação destacada em momentos decisivos para o setor de telecomunicações, como representante das Forças Armadas junto ao governo federal nessa especialidade, participando inclusive da comissão que elaborou o anteprojeto do Código Brasileiro de Telecomunicações em 1954, que, votado e aprovado pelo Congresso em 1962, acabou com a estagnação do setor.
Uma vida de trabalho
Sua vida, no entanto, está definitivamente ligada à implantação e à consolidação do chamado modelo Telebrás. Em 1972, Alencastro participou do processo de criação da holdidng e foi seu segundo presidente, sucedendo ao comandante Euclides Quandt de Oliveira. Em sua gestão, foram criadas as teles, ou empresas-polo, uma por unidade da Federação. Vale lembrar que tanto a criação da Telebrás quanto o modelo de autofinanciamento, com os planos de expansão e a entrega de ações da holding, formaram a base para estruturação e institucionalização do setor no Brasil.
Alencastro foi um dos primeiros especialistas em tecnologia no Brasil. Como engenheiro da Centrais Hidrelétricas do São Francisco (Chesf) no período de 1954 a 1956, projetou e dirigiu a fabricação de equipamentos de telecomunicações que, acoplados aos cabos de alta tensão, seriam usados no tráfego entre subestações.
Conhecido por seu espírito inovador, trouxe significativas contribuições à modernização do setor. De 1966 a 1972 foi presidente da antiga Companhia Estadual de Telefones (Cetel), do Rio de Janeiro, empresa pioneira na construção de redes urbanas modernas de telefonia, com a introdução de várias inovações, como cabos com revestimento plástico, conector para emendas dos fios dos cabos, tecnologia digital PCM (Pulse Code Modulation) em redes e lances de micro-ondas em redes urbanas.
Avaliação do código
Em sua opinião, o Código Brasileiro de Telecomunicações, ao ser promulgado em 1962, veio acabar com a corrupção praticada nas prefeituras e câmaras municipais, que utilizavam o poder de concessão em troca de favores políticos. A tarifa, também determinada em esfera municipal, era algumas vezes exorbitante, fazendo a população pagar caro por serviços precários.
Alencastro relembrava que, antes do código, houve um longo período de estagnação do setor, determinado pelo modelo municipalista, tendo o município como poder concedente, regulador dos serviços e com poder sobre a questão das tarifas: “Foi aí que a demagogia tarifária campeou neste País. Durante esse período, destruía-se a possibilidade de termos um sistema moderno, eficiente. As empresas viviam com a corda no pescoço. Não que esses concessionários fossem bonzinhos, não, mas é que, na maioria dos casos, as tarifas eram absolutamente aviltadas pela demagogia de políticos, tanto prefeitos quanto vereadores”.
Acabando com essa situação, o código deu início a uma fase de desenvolvimento do setor. Foi criado o Conselho Nacional das Telecomunicações (Contel) como órgão regulador, que elaborou o primeiro regulamento de radiodifusão, de telefonia, o plano nacional de telecomunicações e todas as normas necessárias ao funcionamento do setor.
Sua vida na Telebrás
Alencastro recordava que, antes que se decidisse o processo de criação da Telebrás, havia três propostas. a) A Embratel se transformar numa holding; b) A Companhia Telefônica Brasileira (CTB) seria a holding; c) Uma terceiro opção acabou sendo vitoriosa: criar uma empresa específica para a função de holding.
Alencastro defendeu essa terceira posição: “A holding não poderia ser operadora. Essa impossibilidade legal afastava, logicamente, a Embratel do páreo. A hipótese de a CTB ser a holding também não pareceu aceitável porque o País vivia o período de estagnação de suas telecomunicações. Por isso a alternativa era criar uma nova estrutura para ser a holding. Assim surgiu a Telebrás”.
Como presidente da holding, Alencastro deu início à implantação do Sistema de Planejamento e Controle, ferramenta básica para o sucesso das telecomunicações no País. Foi também responsável pela interiorização das telecomunicações, levando-as a todos os municípios brasileiros. A rede brasileira saltou de 2,6 milhões para 10,8 milhões de linhas telefônicas instaladas.
Grande destaque desse período foi a criação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás, no qual foram desenvolvidas tecnologias de ponta, como fibra óptica, PCM, estação receptora de satélite e, deve-se salientar, a central de comutação telefônica digital (Trópico).
Os estudos finais que conduziram à especificação do Sistema Brasileiro de Telecomunicações por Satélite também foram feitos nessa época, ou seja, entre 1979 e 1981. A conclusão desta etapa permitiu a licitação internacional, sua posterior aquisição e lançamento do primeiro satélite brasileiro, o Brasilsat I, em 1985.
“Sou socialista”
Numa surpreendente confissão a este jornalista – publicada em seu perfil biográfico no livro Grandes Personalidades das Comunicações (Dezembro Editorial, São Paulo, 2001) – disse considerar-se socialista. “Sempre achei que a riqueza é mal distribuída”.
E contava que a formação de seu pensamento socialista decorreu de sua própria história de vida, pois foi um menino pobre e, ainda criança, teve de trabalhar duro para ajudar a mãe a sustentar a casa: “Digo-lhe, sem constrangimento: cheguei até a não poder tomar leite de manhã porque não tinha dinheiro. Mamãe não tinha dinheiro. Mamãe fazia dez, doze quilos de doce por dia, para vender. Era a sobremesa dos estudantes. Viúva de um militar com um montepio muito baixo, costurava oito túnicas por semana. Quem as levava era eu. Desde pequeno, aos 7 anos, sempre achei que a riqueza no mundo é mal distribuída”.
Por.Ethevaldo Siqueira

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